Total de visualizações de página

domingo, 18 de março de 2012

Risco de morte súbita na longa distância é baixo


Risco de morte súbita na longa distância é baixo 
Edição 221 - FEVEREIRO 2012 - YARA ACHÔA
Estudo americano, publicado no periódico New England Journal of Medicine, diz que a PARTICIPAÇÃO em maratonas e meias não coloca o coração em perigo.
Publicidade

Se você é um corredor de longa distância saudável, são extremamente baixas suas chances de morrer de parada cardíaca súbita durante uma prova, indica estudo recente da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Aproximadamente dois milhões de pessoas participam de CORRIDASde longa distância nos Estados Unidos anualmente. E nos últimos anos, casos relacionados com paradas cardíacas geraram preocupação com a prática segura dessa atividade.

"O consenso geral - com base na grande divulgação de ocorrências de paradas cardíacas durante esses eventos - era de que as corridas representavam alto risco para o coração. Mas descobrimos que a possibilidade de uma parada cardíaca em corredores de maratona e meia-maratona é igual ou menor que o risco para outros atletas. Esta descoberta traz a garantia de que se trata de uma atividade geralmente segura e bem tolerada", declarou ao site da universidade o PROFESSOR Aaron Baggish, principal autor da pesquisa e diretor do Programa de Desempenho Cardiovascular de Harvard, afiliado ao Massachusetts General Hospital, em Boston. "Este estudo fornece a primeira caracterização precisa e abrangente de parada cardíaca e risco de morte súbita nessa população", completa o especialista.

Os cientistas de Harvard analisaram paradas cardíacas sofridas entre participantes de MARATONAS ou meias nos Estados Unidos entre 1 de janeiro de 2000 e 31 de maio de 2010. De quase 11 milhões de corredores americanos de longa distância pesquisados, 59 tiveram parada cardíaca. Ou seja, a proporção foi de uma morte em cada 259 mil corredores, sendo que a maioria tinha uma doença cardíaca oculta. Quarenta paradas cardíacas ocorreram em maratonas e a idade média dos corredores foi de 42 anos. Os homens estavam em risco significativamente maior do que as mulheres; 71% das paradas cardíacas foram fatais, revelou o trabalho de Baggish, publicado na edição de janeiro do conceituado periódico New England Journal of Medicine.


CAUSAS DEFINIDAS. Para a realização do estudo, estatísticas anuais sobre a participação em corridas, fornecidas por associações dos Estados Unidos, entraram em um banco de dados. O pesquisadores identificaram casos de parada cardíaca por meio de uma combinação de métodos, incluindo mecanismos de busca na internet e contato com diretores de provas. Eles entrevistaram ainda corredores que sobreviveram à parada cardíaca, ou parentes próximos, e conferiram os registros médicos e dados de autópsia. Estas informações estavam disponíveis para 31 dos 59 corredores afetados.

Uma condição chamada cardiomiopatia hipertrófica foi a causa definida ou provável da morte de 15 atletas, segundo os pesquisadores.

Trata-se de uma doença na qual uma porção do miocárdio (músculo do coração) está hipertrofiada sem nenhuma causa aparente, normalmente decorrente de uma anomalia genética. Esse espessamento anormal do músculo cardíaco é a causa mais comum de morte súbita cardíaca em atletas jovens, mas já não tem sido considerada problema na população mais velha.

Nove das pessoas que morreram tinham outras anormalidades cardíacas, como doença arterial coronariana obstrutiva, doenças congênitas e miocardite, que é uma inflamação do músculo cardíaco. Um corredor morreu de insolação e outro de hiponatremia, que pode ocorrer quando uma pessoa bebe muito líquido, diminuindo a concentração de sódio. Outros dois, supõe-se, morreram de arritmia (ritmo anormal do coração).

"Os números mostram seis mortes por ano - e todas com causas definidas. Ou seja, as pessoas não morrem por causa do exercício. O que mata são as doenças prévias não valorizadas ou não sabidas, além de erros (hiponatremia, hipertermia) e abusos físicos", diz Nabil Ghorayeb, cardiologista e médico do esporte do Hospital do Coração (HCor) e chefe da seção médica de cardiologia do exercício e do esporte do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de São Paulo.

Mas o médico, que é autor do livro "Ninguém Morre de Véspera", alerta: "Não existe risco zero na prática de qualquer esporte de elevada intensidade. Esporte não é vacina, nem a avaliação é seguro de vida. Acontece que muitas pessoas subestimam os próprios limites. Exagero é fator de risco, sim, para o coração. Vale lembrar que correr uma maratona não é como andar no shopping. Esse tipo de prova gera desgaste fisiológico grande e é preciso estar preparado".


NOVO PERFIL DO CORREDOR. Diretor-executivo da American Running Association, David Watt diz que a cada ano surgem novas corridas, especialmente meia-maratonas, atraindo um tipo diferente de corredor. "O corredor de hoje é mais velho, mais lento, comprometido com mais eventos e provavelmente não tão atlético", analisa. Alguns são corredores inexperientes ou que defendem causas sociais através do esporte e chegam à corrida para ajudar instituições de caridade ou para perder peso.

Para os médicos, corrida de longa distância é segura desde que você tenha condicionamento adequado, que ouça seu corpo e não tente prosseguir com dor no peito ou falta de ar e ainda não ignore fatores como o colesterol alto.

Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Por essa razão, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) reforça a necessidade de exames de ‘pré-participação do atleta', capazes de detectar possíveis anomalias cardíacas, silenciosas ou não, que podem levar ao afastamento temporário ou definitivo da atividade física.

Esse tipo de avaliação, que deveria ser praxe, pode contribuir para a diminuição dos casos de morte súbita durante a prática esportiva. "Nossa luta é para que se façam exames de avaliações competentes. É seguro dizer que 95% das complicações cardíacas que levam à morte súbita são detectáveis por esses testes, quando realizados de maneira séria e criteriosa e não para atender às exigências burocráticas. São raras as condições cardiológicas impeditivas para a prática de atividade física", afirma Ghorayeb.

"Todos os corredores, sejam eles jovens ou mais velhos, devem ter uma conversa com seus médicos sobre a intenção de correr e deve haver uma avaliação muito clara de fatores de risco", finaliza o professor Baggish, de Harvard.

Nenhum comentário: